ESTUDOS BÍBLICOS

Wednesday, August 27, 2014

PAZ NÃO É FELICIDADE

"Deixo-vos a minha paz, a minha paz vos dou; não vou-la dou como o mundo a dá... Infiéis, não sabeis que a amizade com o mundo é inimizade contra Deus? Portanto qualquer qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus" (João 14:27a e Tiago 4:4)
por Juliano Henrique Delphino

Desde a última postagem, após assistir alguns vídeos profanos sobre a comunidade evangélica, que a despeito da grosseria e da blasfêmia protagonizada pelo interlocutor tinha, de certa forma, vários pontos de contato com a realidade bizarra de muitas denominações, refleti sobre a  razão de tais distrofias e do porquê do apoio das massas a esses falsos profetas.

À parte da atividade manifestamente satânica, em minha mente não consegui pensar em outra coisa a não ser em dilemas éticos. Das situações limites diante de Deus as quais demandam escolhas, e por qual motivo, cargas d'água, as pessoas optam por soluções mundanas, com aparência de bíblicas, dando ouvidos a essas doutrinas diabólicas.

Em um primeiro momento creditei as escolhas a uma grande dose de ignorância (Oséias 4:6a O meu povo foi destruído por falta de conhecimento). Já após uma reflexão mais acurada, percebi que se trata de questão ontológica da alma: " pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração." (Mateus 6:21)

Ora, objetivos errados levam a condutas e crenças absurdas, pois eu sou aquilo que desejo. Se desejo coisas mundanas, serei mundano em meu proceder, ainda que esteja travestido de religioso.

Sendo assim, o maior equívoco da ética cristã é confundir paz com felicidade ou utilizá-las como sinônimos, pois faz-se de coisas diferentes objetivos comuns. A primeira é necessariamente afeta a pluralidade, em sua relação e convívio, necessitando de no mínimo duas pessoas, ao passo que a segunda  afeta exclusivamente o indivíduo, podendo ter ou não alguma relação com o outro.

A ética secular foi erigida sobre o pilar da felicidade (eudaimonia). Palavra grega resultante de eu - bom + daimonia - espíritos da natureza, literalmente, bom demônio. Apesar de para os gregos a palavra demônio ser neutra, para os judeus e cristãos sempre significou entidade maligna, pois referia-se às entidades idólatras da religião pagã.

O eudemonismo aristotélico é similar ao übermansch de Nietzsche: o homem-deus da razão que tende para o bem.

No extremo oposto, a ética bíblica é toda construída sobre o fundamento da paz (Shalom), mas não na sua relação entre os homens, mas na relação destes com Deus. É justamente nessa inimizade entre o divino e o humano onde se constrói todo o edifício ético propriamente cristão. Ou seja, a partir da consciência e do conceito da miséria humana.

O telos (finalidade) não está no bom convívio entre os homens ou na valorização do humano, mas na reconstrução da relação homem-Deus. E se em algum momento o foco muda de agradar a Deus e passa a ser em como agradar a mim mesmo ou aos outros, esse tipo de ética será qualquer coisa, menos cristã.

A ética de Jesus consiste em um sistema aberto. É axioteleológica. Busca soluções aos problemas cotidianos à luz de princípios, sempre tendo por finalidade a paz com Deus. Em contradição ao sistema rabínico-farisaico proponente de uma deontologia bíblico-normativa exaustiva, o modelo apresentado por Cristo propõe uma reinterpretação da Lei Mosaica pelo prisma dos mandamentos de "Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo."

Devemos ressaltar que há uma hierarquia entre as duas máximas. Existe uma primazia do "Amar a Deus" sobre o "amor ao próximo". Podemos ver essa ética em aplicação no Sermão do Monte.

Portanto, uma ética cristã autêntica consiste em pensar todas as coisas à luz desses dois mandamentos de modo que nenhuma de nossas ações quebre a nossa comunhão com o Senhor.

Felicidade muitas vezes se busca e se conquista com guerras, mas a paz não. Para se ter paz deve-se abdicar de muitos desejos e interesses. Para se ter felicidade deve-se persistir e correr atrás deles, mesmo às custas dos outros. A história da humanidade é o conto de fadas dos tiranos felizes e das massas devastadas.

Isto posto, o que temos visto são Igrejas que tem em sua doutrina, como foco central, a promessa da felicidade. O compromisso dessas denominações não é formar discípulos de Cristo, mas, sim, os bons demônios.

Bons demônios querem sucesso, bem estar, riqueza, poder, superioridade espiritual, enfim: prosperidade. Cristãos de verdade querem reconciliação com Deus, o fim da guerra que só vem por meio de Jesus!

Perdemos o senso de urgência assim como o povo do tempo de Noé. Estavam vivendo felizes em seu mundanismo até que veio o dilúvio e matou a todos. Então Deus abaixa o seu arco (arco-íris) e celebra a paz com Noé e seus descendentes, o qual procurou fazer a vontade do Pai.

Esse cristianismo do Pai-de-santo Evangélico, da linha de Balaão Benbeor, ou do "American way of life", da linha de  Simão o Mago, Jesus não participa!

Por causa dessa ética eudemônica, Satanás tem ridicularizado às Igrejas assim como envergonhou os dois exorcista judeus: "Ora, também alguns dos exorcistas judeus, ambulantes, tentavam invocar o nome de Jesus sobre os que tinham espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos por Jesus a quem Paulo prega. E os que faziam isto eram sete filhos de Ceva, judeu, um dos principais sacerdotes. Respondendo, porém, o espírito maligno, disse: A Jesus conheço, e sei quem é Paulo; mas vós, quem sois? Então o homem, no qual estava o espírito maligno, saltando sobre eles, apoderou-se de dois e prevaleceu contra eles, de modo que, nus e feridos, fugiram daquela casa." (Atos 19:13-16)

Busquemos a paz, e não a felicidade!

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