por Juliano Henrique Delphino
Então, Calebe fez calar o povo perante Moisés e disse: Eia! Subamos e possuamos a terra, porque, certamente, prevaleceremos contra ela.
(Números 13:30)
Se a liberdade é capacidade de agir de acordo com os ditames da própria vontade, confundindo-se, neste sentido, com a própria definição de poder, é verdade que, no indivíduo, esta nunca se encontra de forma absoluta. Somos limitados pelo mundo que nos cerca. Vai-se até onde o universo nos permite.
Mas se ser livre é poder agir até os limites – a divisão entre o “eu” e o “mundo” – , é fato que nenhum homem o é, pois a todo tempo aquilo que nos cerca restringe a nossa liberdade. A restrição não se dá pela diminuição dos limites, mas pela dominação da nossa própria vontade. “Somos livres para fazermos o que quisermos, porém não queremos nada do que o mundo não exija e determine para nós!”
A escravidão é uma característica intrínseca da humanidade coletiva. O homem é escravo não da sua liberdade, já que esta sempre impõe a obrigação da escolha, mas da “Vontade Geral” que controla a sua.
O mais engraçado é observarmos que os “espíritos livres” , como se intitulam os filósofos, são os mais presos de todos. São os arautos da revolução provocada pelo pensamento do porvir. São os anunciadores do próximo império das mentes e dos corações: do próximo paradigma.
Nenhuma visão pode libertar o homem de sua condição, de sua humanidade, de sua miséria. Todos os nossos esforços de superação resumiram-se a conseguir a saída de um cativeiro para outro. Sai-se do Egito para terminar na Babilônia. Do mundo Tribal/Patriaracal para os Estados Demagógicos de Direito. E quando, na história (esse é um termo que os marxistas adoram), houve uma proposta de libertação total de nossa miséria, saímos da clausura do Estado burguês para a “liberdade” da Ditadura do Proletariado! A nossa “terra prometida” é por força e por nome autoritária - o autoritarismo dos fazedores de crianças!
Em que caminho andam os detentores da verdade? Há verdades mais verdadeiras do que outras. Há a verdade que faz um homem, em nome de alguma coisa, explodir um ônibus cheio de pessoas alheias a aquilo que ele diz defender. Há a verdade que faz com que o Ocidente repugne a verdade daquele homem, e em nome da “tolerância” ficamos “verdadeiramente” inertes às situações e circunstâncias, sendo omissos quanto ao fato de que as armas comercializadas no Oriente somos nós que produzimos. Somos muito tolerantes quanto a isso!
Jesus certa vez disse: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (...)Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 8:32 e 14:6). Contudo, diz-se que Deus, sua idéia, enfim, o cristianismo é a fonte da prisão da humanidade. Feuerbach, Nietzsche, Russel, Freud, Marx e tantos outros nos “iluminaram” quanto aos perigos de Jesus! Todavia, a verdade desses homens e a nossa verdade jamais libertou alguém.
É o Egito... é o maldito Egito que nos consome. Deus a todo tempo, nos conclama para a libertação. Todavia, preferimos morrer no deserto. No deserto do pensamento humano. Por diversas vezes quase alcançamos a terra, mas os quarenta dias programados, transformaram-se em quarenta anos. E quando da entrada, ouvimos os espias: - Cuidado com a terra! É local de gigantes! Cuidado! Deus está morto!
Deve-se perguntar: aonde estão aqueles espias? Aonde está Zaratustra?
“Eia! Subamos e possuamos a terra, porque, certamente, prevaleceremos contra ela.” – assim falava Josué!