por Juliano Henrique Delphino
“Pela meia-noite Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, enquanto os presos os escutavam. De repente houve um tão grande terremoto que foram abalados os alicerces do cárcere, e logo se abriram todas as portas e foram soltos os grilhões de todos. Ora, o carcereiro, tendo acordado e vendo abertas as portas da prisão, tirou a espada e ia suicidar-se, supondo que os presos tivessem fugido. Mas Paulo bradou em alta voz, dizendo: Não te faças nenhum mal, porque todos aqui estamos. Tendo ele pedido luz, saltou dentro e, todo trêmulo, se prostrou ante Paulo e Silas e, tirando-os para fora, disse: Senhores, que me é necessário fazer para me salvar? Responderam eles: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa.”
(Atos 16: 25-31)
O que pode levar um homem a tirar a sua própria vida?
Inúmeros motivos têm sido dados para justificar o ato de se matar, mas parece que nenhum deles revela-se razoável.
De tudo de polêmico que envolve a questão, a única coisa certa é que o suicídio é uma falência pessoal e social.
Pessoal: porque o indivíduo que o comete, na maioria dos casos, desistiu de viver, demonstrando-se inapto a enfrentar as situações cotidianas.
Social: porque seu ato provoca a repugnância na sociedade, em especial das pessoas que o cercam, deixando marcas indeléveis em face da sensação de impotência, bem como expõem as chagas da derrota da família, dos amigos, do grupo de convívio, incapazes de dar as condições para que aquela pessoa amada pudesse ter continuado a lutar.
O suicídio sempre afeta a todos!
O estudioso Émile Durkheim classificou-o em três tipos básicos:
1- Suicídio Egoísta: decorre do enfraquecimento do controle social com o favorecimento do individualismo mórbido que tendesse ao suicídio (ex.: Saul)
2- Suicídio Altruísta: contraponto ao anterior , é o cometido por uma causa nobre em favor de outras pessoas ou em pró da comunidade (ex.: Sansão)
3- Suicídio Anômico: decorre de conflitos sociais internos, como a emigração, desorganização social e dificuldades econômicas, que frustrariam as aspirações do indivíduo, eliminando toda a base moral e regramentos da sua vida – por isso se diz anômico (gr. anomos: “sem lei”) –, levando-o ao suicídio (ex.: Judas Iscariotes)
Os estudos psiquiátricos têm mostrado que o suicídio está intimamente ligado aos casos de depressão, podendo ser uma atitude decorrente do agravamento desta em um estágio avançado ou final.
O suicídio, até seu ato final, é precedido de comportamento suicida o qual pode ser identificado estágios de progressão até a tentativa ou consumação:
1- Idéias suicidas: são o grau inicial. Apresentam-se primeiro de forma esparsa, para depois adquirir proporções deveras significativas, de modo que não conseguem ser afastadas da mente do indivíduo.
2- Desejo de suicídio: acompanham a idéia de suicídio, ou a vontade de praticá-lo, sem, contudo, o planejamento específico ou a ação.
3- Intenção de suicídio: a ameaça de pôr fim à vida é claramente expressa, sem a realização de ação concreta, porém. Em geral antecede o plano de suicídio.
4- Plano de suicídio: o indivíduo decide pôr fim à vida, passando a tramar a própria morte, planejando os detalhes de lugar, hora e método. Por vezes, deixa um "bilhete" de despedida.
5- Tentativas de suicídio: são atos auto-agressivos, mas não fatais, primando o indivíduo por tentar assim vingar-se, chamar a atenção, provocar culpa nos outros, entre outras motivações.
6- Atos impulsivos: consistem em atos agressivos sem planejamento suicida, acompanhados de métodos repetitivos e estereotipados. Na tentativa de suicídio e no ato impulsivo a efetiva ameaça à vida tem graus variáveis, culminando nas tentativas de suicídio, cuja letalidade é interrompida por terceiros ou por profissionais da saúde.
7- Suicídio: tem por desfecho a morte. É caracterizado pelo planejamento cuidadoso e emprego de métodos realmente letais.
É claro que nem sempre se procede necessariamente nessa ordem. Mas o intuito é demonstrar que ninguém se mata de uma hora para outra, mas é fruto de um processo.
A problemática do suicídio no meio evangélico repousa muito mais no tabu, ou seja, na Igreja (instituição) que se nega a falar ou enfrentar o assunto, do que na questão se a Bíblia permite ou condena o ato.
Não obstante, é um inafastável que a Igreja atual está totalmente despreparada para enfrentar o assunto. Preferindo responder a essa sensível questão da seguinte forma: O suicídio é um ato de covardia e todo suicida vai para o inferno!
Tal afirmação constitui num verdadeiro dogma, criando uma barreira intransponível.
Com efeito, a conseqüência em nosso meio é que, quem pensa em suicídio tem vergonha de falar, e acaba não procurando ajuda por ter medo da reação.
O final é que a maioria das pessoas, que vão às igrejas ou são membros, que cometem suicídio, a congregação acaba não sabendo ou não participando do processo porque essas pessoas tendem a se afastar em um certo período anterior ao ato.
Portanto, voltando ao ponto inicial. O suicídio também é uma falência da Igreja (insituição)!
Em que pese os nossos sentimentos confusos e nossa opinião sobre o assunto, o texto acima colacionado mostra como o suicídio pode ser derrotado quando a igreja (de Cristo) enfrenta o problema “em Nome de Jesus” com base no amor. Se importando com o próximo.
No texto, Paulo e Silas, após a milagrosa libertação da prisão vêem o carcereiro tentar dar cabo de sua vida. Isto é, um homem em estado de desespero e angústia, sob a influência de uma depressão e estresse profundo, decide se matar.
Qual foi a reação de Paulo? Será que ele agiu como nós temos agido? Foi Paulo indiferente?
Claro que não! Mas antes respondeu: “Não te faças nenhum mal, porque todos aqui estamos”.
Queridos, o apóstolo Paulo disse exatamente aquilo que o suicida precisava saber, ou seja, que ele não estava sozinho, mas que todos nós (igreja) estamos aqui. Que o amamos e que seja qual for o problema, a solidão não irá reinar, porque existem pessoas que se importam com ele e estão ao seu lado para ajudá-lo.
Em outras palavras, Paulo simplesmente aplicou o que diz o mandamento de amar o seu próximo como a si mesmo.
Na atualidade as causas de depressão são inúmeras. Mas o principal motivo de depleção emocional é o individualismo exacerbado de nossa sociedade e o espírito competitivo.
Criam-se tantas expectativas sobre o indivíduo, cuja maioria são impossíveis de serem cumpridas, que este se sente miserável é fracassado, tendente a perder a direção ou a razão para viver.
A necessidade de ter o corpo perfeito - nas mulheres o corpo de modelos e nos homens o corpo de Apolo. A imposição de máxima virilidade e potência sexual. A obrigação de ser bem-sucedido na carreira. Ter posição social privilegiada e todas as outras demandas da sociedade do consumo, leva o homem pós-moderno à solapar a personalidade.
Se o “mérito” da Modernidade foi elaborar a “Morte de Deus”, dispensando o Criador, substituindo-o por uma filosofia progressista (materialismo dialético) de um futuro sem Deus. Após duas Grandes Guerras Mundiais, o otimismo acabou e a sensação de fatalismo tomou conta da humanidade, fazendo surgir uma Pós-Modernidade do homem contemporâneo que sente a necessidade Dele, mas não sabe aonde procurá-Lo, pois a geração anterior "o matou". O mérito da Pós-Modernidade é o niilismo (doutrina que preconiza o nada .
O homem se encontra no meio do nada! Após um período onde se pregava um futuro sem Deus. Hoje vivemos num presente sem Deus e sem futuro!
Nisso reside às causas das depressões e do aumento da incidência de suicídios.
O papel da igreja é dizer: Não te faças nenhum mal, porque todos aqui estamos!
Como conseqüência, o mundo nos pergunta: “que me é necessário fazer para me salvar?”
E a resposta igreja deve ser sempre: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa.
Isto é, a pregação eficaz do evangelho! Que sai das paredes do templo e que invade as ruas. Impactando, resgatando as almas perdidas. Dando soluções e esperança aos desamparados e desesperançados.
Ao invés de ficarmos nos dogmas do tipo: todo suicida vai para o inferno! Devemos dizer: Nós te amamos e estamos do teu lado! Jesus ama você! Há solução!
Se você está em depressão ou pensa em suicídio quero te dizer: Eu estou aqui! Jesus te ama! quero enfrentar o seus problemas junto com você. Me escreva: juliano@delphinoadvogados.com.br ou diazep@hotmail.com .